23 dezembro 2003
Uma notícia interessante que ainda não tinha aqui dado conta, mas que veio hoje com as astronovas do Observatório de Lisboa (OAUL). Aqui fica a notícia com a devida vénia ao OAUL.

Observatório Astronómico de Lisboa

SERÁ QUE O XMM-NEWTON PÔS EM CAUSA A ENERGIA ESCURA?

O observatório espacial de raios-X, XMM-Newton, forneceu novos dados enigmáticos
acerca da natureza do Universo. Na observação de enxames de galáxias distantes,
o XMM-Newton descobriu algumas diferenças estranhas entre os actuais aglomerados
de galáxias e os presentes no Universo há cerca de sete mil milhões de anos.
Alguns cientistas afirmam que este resultado pode significar que não existe a
chamada "energia escura", algo que recentemente se acredita ser o maior
constituinte do Universo.

Observações efectuadas a oito enxames distantes de galáxias, dos quais o mais
distante encontra-se a 10 mil milhões anos luz de distância, foram analisadas
por um grupo internacional de astrónomos liderados por David Lumb da ESA. Estes
enxames foram comparados com outros encontrados em locais mais próximos no
Universo.

Os enxames de galáxias são prodigiosos emissores de raios-X porque contêm uma
enorme quantidade de gás a temperatura elevada. Este gás rodeia as galáxias tal
como o vapor de água rodeia as pessoas presentes numa sauna. Através da medição
da quantidade e energia dos raios-X provenientes de um enxame, os astrónomos
podem determinar a temperatura do gás e a sua massa.

Teoricamente, num Universo onde a densidade da matéria é elevada, os enxames de
galáxias continuariam a crescer com o tempo e por isso, em média, deveriam
conter mais massa no presente que no passado.

Resultados recentes têm levado a maioria dos astrónomos a acreditar que vivemos
num Universo de baixa densidade no qual uma substância misteriosa, conhecida
como "energia escura", está presente em 70% do conteúdo do cosmos. Neste
cenário, cedo na história do Universo, os enxames de galáxias deveriam ter
deixado de crescer, e consequentemente parecerem virtualmente indistinguiveis
dos de hoje.

Os astrónomos do projecto Omega do XMM-Newton, preparam-se para apresentar
resultados que mostram que enxames de galáxias presentes no Universo longínquo
não são como os do presente. Estes primeiros aparentam libertar mais raios-X
que os actuais. Logo, é claro que a aparência dos enxames de galáxias foi-se
modificando ao longo do tempo. Estes resultados foram também utilizados para
calcular como a abundância destes objectos varia com o tempo. Um dos astrónomos
afirmou que existiam poucos enxames destes no passado.

Este resultado indica que o Universo tem de ser um ambiente de grande densidade,
em clara contradição com o modelo aceite actualmente, que defende um Universo
com mais de 70% de energia escura e matéria de densidade muito baixa. Esta
conclusão será bastante controversa na medida em que para estes resultados
poderem ser considerados, o Universo tem de possuir uma grande quantidade de
matéria, deixando pouco "espaço" para a energia escura.

Para o reconciliamento das observações do XMM-Newton com os modelos aceites, os
astrónomos teriam de admitir uma falha fundamental no seu conhecimento acerca do
comportamento dos enxames e, possivelmente, das próprias galáxias que o
constituem. Por exemplo, as galáxias dos enxames mais longínquos teriam de
injectar mais energia no gás que as rodeia do que é actualmente compreendido.
Esse processo iria sendo gradualmente reduzido à medida que o enxame e as
galáxias fossem envelhecendo.

Independentemente da maneira como os resultados possam ser interpretados, o
XMM-Newton forneceu aos astrónomos uma nova visão do Universo e um novo mistério
a ser desvendado. Em relação à possibilidade de os resultados estarem
simplesmente errados, estes estão no processo de serem confirmados por outros
observatórios de raios-X. Se estes devolverem a mesma questão, poderemos ter de
repensar a nossa compreensão do Universo.
 
posted by Jose Matos at 01:16 | Permalink |


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