06 janeiro 2004
Hoje o Público traz a notícia desse famoso meteoro que foi visto em Espanha e Portugal. Com a devida vénia à Teresa Firmino faço aqui uma cópia do artigo.

Bolas de Fogo Avistadas no Céu de Portugal e Espanha
Por TERESA FIRMINO


Ao fim da tarde de domingo, muita gente foi surpreendida com bolas de fogo a atravessar o céu de Portugal e Espanha. Seriam quase cinco horas da tarde e assim, já ao lusco-fusco, muitos puderam ver as bolas de luz. Houve telefonemas para os bombeiros, o serviço de urgência 112, a polícia e a Guarda Civil, nos dois países, a relatar as observações. O fenómeno pode ter sido causado pela entrada na atmosfera terrestre de um bocado de um asteróide, que se fragmentou e terá caído em vários locais em Espanha. Mas, por ora, não há certezas do que realmente aconteceu.

Por cá, muitas testemunhas relataram ter visto as bolas de fogo na área entre Viana do Castelo, Caminha e Valença, referiu Rui Barbosa, entusiasta de assuntos do espaço e editor do boletim electrónico Em Órbita. "Os bombeiros e o 112 foram bombardeados com telefonemas que variavam entre a queda de um avião e o fim do mundo", contou.

Em Espanha, o fenómeno foi mais visível, atingindo o pico entre as 16h45 e as 16h50 (hora de Lisboa), relatou ainda Rui Barbosa. As bolas de fogo foram aí avistadas em diversos locais: desde as províncias galegas de A Corunha, Lugo, Ourense e Pontevedra até Leão, Palência, Madrid, Teruel e Castellón, Albacete, Valência e Ilhas Baleares. E há mesmo um vídeo amador do fenómeno feito em Espanha, conta José Augusto Matos, da Associação de Física da Universidade de Aveiro. "A queda de um objecto destes na Terra é excepcional", comentou ainda.

Segundo o astrónomo Rui Agostinho, do Observatório Astronómico de Lisboa, os relatos em Espanha parecem indicar que houve uma explosão e que a bola de fogo se dividiu em muitos pedaços. "E as pessoas viram os pedaços a fazer de estrelas cadentes", disse.

Tanto em Portugal como em Espanha, as autoridades começaram logo à procura dos fragmentos do possível meteorito. Em Portugal, cerca de 30 bombeiros das corporações das zonas norte e centro - de Viana do Castelo, Ponte de Sor, Viseu, Castro D'Aire e Caminha - empenharam-se numa busca infrutífera, entre as 18h30 e as 22h00 de domingo, para encontrar qualquer coisa que pudesse ter caído do céu, noticiou a agência Lusa. Segundo o Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil, citado ainda pela Lusa, houve muitos telefonemas para o 112 de pessoas que diziam ter visto cair objectos incandescentes, com caudas de três metros, sem que houvesse notícias de estragos.

Ao invés, em Espanha surgiram notícias de pequenos fogos, possivelmente originados pela queda do meteorito. A fazer fé nos relatos, podem ter caído pedaços em Leão e Castellón. Ou até no mar, a norte da Galiza, observou Rui Agostinho depois de ter ouvido a opinião de José Fernando Monteiro, especialista em meteoritos da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Este especialista vai hoje para o Norte de Portugal ouvir as testemunhas para tentar saber o que viram exactamente, a que horas e em que direcção. "As pessoas enganam-se muito em relação a trajectórias", comentou Rui Agostinho.

Colocaram-se várias hipóteses para a origem do fenómeno. Nesta altura do ano há sempre uma chuva de estrelas, as quadrântidas, porque a Terra atravessa uma zona no espaço onde ficaram os restos da passagem de um cometa. Esses restos, pequenas partículas de poeiras, produzem traços de luz quando entram na atmosfera. Mas esta hipótese está a ser posta de lado, porque o objecto que originou a bola ou bolas de fogo parece muito maior. José Ángel Docobo, director do Observatório Astronómico da Universidade de Santiago de Compostela, teve a sorte de assistir ao fenómeno enquanto via um jogo de futebol no estádio de San Lázaro. Com base no que viu, estimou que o objecto tivesse entre 50 e 100 toneladas. Para Rui Agostinho, o objecto terá "eventualmente de centenas de quilos", acrescentando que, mesmo assim, é raro: "Os espanhóis fazem uma estimativa que é muito exagerada."

Outra hipótese era a entrada na atmosfera do bocado de um foguetão Ariane, prevista para domingo, mas a NASA confirmou que isso sucedeu no sábado. Assim, tanto para Rui Barbosa como para José Augusto Matos e Rui Agostinho o fenómeno observado terá tido origem no bocado de um asteróide, oriundo da cintura que orbita entre Marte e Júpiter. Terá sido uma coincidência ter surgido na mesma altura da chuva de estrelas, embora continue sem se saber ao certo a sua origem. "Só se tiram as dúvidas apanhando um pedaço e fazendo uma análise química", sublinhou Rui Agostinho.
 
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