17 março 2004
Há ou não um novo planeta?
Para quem não percebe nada de planetas esta questão do Sedna pode confundir um pouco a cabeça. Por isso, convém dizer o seguinte. Para além de Plutão não há apenas espaço vazio. Um anel e uma concha de mundos gelados habita o espaço além do último planeta. Conhecidos como corpos transneptunianos fazem parte da chamada cintura de Kuiper, um anel de corpos escuros e núcleos cometários, situado entre a órbita de Neptuno e a nuvem de Oort. Centenas desses corpos têm sido detectadas ultimamente a partir da Terra e há cálculos que apontam para a existência de cem mil corpos com diâmetros superiores a 100 quilómetros, neste anel de matéria, que dista Sol 6 mil milhões de quilómetros. Tudo indica que estes corpos são os restos de uma vasta população de objectos que existia na zona de Neptuno antes da sua formação e que podia ter dado origem a um décimo planeta. No entanto, quando Neptuno se formou, varreu com eles todos, dando origem à cintura de Kuiper, num processo semelhante ao que Júpiter fez na cintura de asteróides. Plutão, Caronte e Tritão, seriam exemplares maiores destes corpos, que foram impedidos de crescer devido à gravidade de Neptuno, que certamente os perturbou fazendo com que colidissem violentamente com outros corpos, impedindo assim o seu crescimento através de colisões suaves. Quanto ao Sedna seria um corpo da nuvem da Oort, pois a sua distância ao Sol aponta para o facto de não ser um corpo da cintura da Kuiper. Está demasiado longe para isso. Portanto, a sua descoberta pode implicar a existência de uma faixa mais interna na nuvem de Oort, mas ainda é cedo para dizer se é assim ou não.
Mas esta provável relação de parentesco entre Plutão e os corpos da cintura Kuiper, tem gerado polémica, com numerosas pessoas a sustentarem que Plutão não devia ser considerado um planeta, mas sim um corpo transneptuniano. A sua órbita em volta do Sol é tão excêntrica que, para alguns astrofísicos, deveria ser considerado simplesmente mais um objecto da cintura de Kuiper. As discussões a este respeito têm sido grandes, mas quem define se um corpo é ou não é planeta é a União Astronómica Internacional. E para acabar com polémicas a organização emitiu um comunicado em Fevereiro de 1999, onde dizia claramente que Plutão continuava a ser considerado um planeta. Mas a descoberta nos últimos tempos de corpos transneptunianos com diâmetros na casa dos mil e mesmo dos 2 mil quilómetros está novamente ameaçar o estatuto de Plutão como planeta. É perfeitamente possível que venha mesmo a ser descoberto um do tamanho de Plutão. E aí Plutão pode passar à história como o único planeta que deixou de ser planeta. É esta polémica que está agora na ordem do dia com a descoberta de Sedna. Será que vamos considerar este corpo o 10º planeta do sistema solar como se diz por aí ou vamos acabar com o estatuto de Plutão. É isto que a União Astronómica Internacional vai ter que decidir nos próximos anos.
 
posted by Jose Matos at 18:31 | Permalink |


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