15 setembro 2006
Polémicas
Há actualmente na blogosfera (em vários blogues) uma discussão acesa entre criacionismo e evolução ou melhor dizendo entre ciência e religião.

A cosmologia moderna tenta obviamente responder às grandes questões existenciais: Donde vimos? Para onde vamos? Como tudo começou? Em relação a estas questões não existem ainda respostas definitivas e o quadro teórico é muitas vezes especulativo. Mas isto não significa que o conhecimento actual que temos do Universo esteja completamente errado e que deva ser substituído pelo criacionismo ou pela crença de que a Bíblia relata uma história real. Convém a este propósito perceber um pouco como surge o relato bíblico da criação.

Os povos bíblicos também tentaram responder a estas questões fazendo um relato daquilo que pensavam ser a criação do mundo e do homem. Tentaram fazer isso com base na sua fé e na sua experiência de povos que tinham fugido do Egipto entrado na Terra Prometida conduzidos por um Deus. Com base nisto construíram uma história de criação baseada nos mitos que já existiam no tempo em que o Génesis foi escrito. É notória a influência do pensamento mesopotâmico em toda a escrita do Génesis. Inspirando-se nestes grandes mitos, os autores bíblicos constroem uma história com base na sua fé de um deus único.

Mas é óbvio que a história que constroem não pode ser encarada do ponto de vista literal. Não é uma reconstrução científica da realidade, nem sequer histórica. Vemos isso logo no início do Génesis quando se diz que Deus criou o Céu e a Terra e que esta estava vazia e vaga e que um vento de Deus pairava sobre as águas. E só depois é que aparece a luz, quando na verdade sabemos que a energia, o espaço e o tempo foram as primeiras coisas que surgiram no Universo actual. Portanto, não há no Génesis uma correspondência real com a história do Universo, nem podia haver, pois os autores bíblicos não tinham conhecimento dessa mesma história.

A história do Génesis é apenas uma história mítica projectada num tempo antes do tempo, no tempo dos deuses, quando o homem ainda não existia, como muitas outras que existiam no Médio Oriente daquela altura.

Vejamos a criação do homem na Epopeia babilónica de Atrás-Hasis, que fala da revolta dos deuses por terem de trabalhar e que para os aliviar criam o homem a partir de uma mistura de barro e de sangue da deusa Nintu. A criação de Adão e Eva a partir do barro encontra aqui a sua inspiração. Mas isto não significa que a história relatada nestes mitos seja real como bem o sabemos. Perceber isto é essencial nesta discussão.
 
posted by Jose Matos at 15:16 | Permalink |


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