Quando olhamos para a história da vida na Terra vemos uma imensidade de coisas. Vemos pelo menos 3500 milhões de anos de história. Onde andava Deus então? No tempo das primeiras bactérias, das primeiras plantas ou dos primeiros dinossauros? Já andava por aí a passear no meio deles? Estou a vê-lo a puxar-lhes o rabo, a dar-lhes de comer na boca ou a dar-lhes os 10 mandamentos da boa convivência. E no tempo dos Australopithecus já havia Deus? Será que o Australopithecus já tinha alma? Já tinha direito à vida depois da morte? E se o homen nunca tivesse aparecido na Terra, haveria Deus? E um dia quando desaparecer da face do planeta e do Universo continuará haver Deus? A vida não tem porquê nem para quê, pois existe independente de nós, mesmo que o homem nunca tivesse existido. O único problema aqui somos nós mesmos com a nossa consciência de saber que estamos cá e de arranjar respostas para justificar porque estamos cá. Mas um cão ou um gato não têm essa necessidade de justificação, pois estão cá simplesmente e não pensam muito no assunto. E nós estamos cá como eles, embora tenhamos dificuldades em aceitar isso. O Australopithecus também não pensava muito no assunto, pois tinha mais em que pensar durante o dia. Mas nós que temos uma cabeça maior e mais esperta pensamos e vemos um pouco mais longe. Mas o que vemos não é agradável e, por isso, temos dificuldade em aceitar. Surgimos na imensidade da vida terrestre como muitos outros antes de nós, mas sem quê nem para quê, como toda a vida que existe por aí e que existiu até hoje neste bocado de pedra e água. Estamos cá há pouco tempo e um dia havemos de desaparecer, talvez mesmo sem deixar rasto. E um dia será a vez da própria Terra assada pelo Sol. A vida já terá desaparecido mesmo a inteligente. Gostava de saber o que é que Deus vai fazer nessa altura? Sem gente para o inventar sem vida para o adorar. Vai sentir-se sozinho? Mas já não estava sozinho no tempo das primeiras plantas ou dos dinossauros? Ou mesmo antes, nos primórdios da Terra? Mas se passou tanto tempo sozinho, não podia ter inventado o homem mais cedo? Esperou tanto para quê? E quando há uns bons séculos atrás inspirou uns farroupilhos a escrever a bíblia não podia logo ter-lhes contado a história toda da criação? É que lhes contou a história muito mal contada cheia de erros e de imprecisões. Mais valia não lhes ter dito nada. Mas mesmo cheia de erros ainda há quem acredite nela, o que mostra bem até onde vai o nosso vício de acreditar. Como dizia há tempos um filósofo americano esta coisa da religião é como o vício de fumar. Sabemos que faz mal, mas custa sempre deixar. É preciso muita força de vontade. E, por isso, um crente não abandona facilmente a sua crença. E depois há sempre o problema do vazio. Há quem não consiga suportá-lo. Como um vício que temos e que depois nos deixa sem saber o que fazer na sua ausência.
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