Acompanho as missões a Marte desde o tempo das missões soviéticas Fobos, lançadas em 88. Foram um desastre. A primeira perdeu-se no caminho e a segunda só se aguentou 3 meses à volta de Marte. Depois foi a vez da Mars Observer americana que também falhou em 93. Mas as falhas ainda não tinham terminado. A Mars 96 russa também não foi longe em 96. Portanto, acumulei decepções durante anos seguidos. Depois com a Pathfinder foi a alegria. Finalmente via uma coisa a funcionar na superfície de Marte. Foram bons tempos e andei um ano inteiro a espalhar as novidades pelas escolas. Usei as imagens até a exaustão. Até a coisa deixar de render.
Com a Polar Lander a frustração voltou. Mais uma para esquecer e chorar. Daí que quando os rovers foram lançados acompanhei a viagem com expectativa. Queria que tudo corresse bem. E quando no dia em que o Spirit chegou a Marte vi as primeiras imagens voltei a sentir a alegria dos tempos da Pathfinder. Fantástico. Imagens de um sítio novo cheio de pedras e com montanhas ao fundo. Depois foi o Opportunity e aquela paisagem estranha em Meridiani Planum. Com o passar dos meses as novidades foram chegando e os dois rovers foram entrando na nossa rotina. Tanto que hoje já não se fala deles, embora continuem a trabalhar. Mas é fantástico que tenham durado tanto tempo. É espantoso que ainda trabalhem. Por isso, continuo a ver o que fazem e continuo a falar deles.
Infelizmente, não tenho falado tanto quanto gostaria. Nas escolas falo de outras coisas. As prioridades são outras. Mas em palestras sempre que posso falo deles. E não me posso queixar muito. Desde 2003, que não me canso de chamar atenção para eles. Devo ter sido o tipo que mais falou deles em Portugal até hoje. É uma espécie de missão que tenho. E amanhã estarei na FLUP do Porto a cumprir essa missão. A lembrar que num mundo aqui ao lado há duas máquinas fantásticas a trabalhar todos os dias para conhecermos melhor um planeta primo do nosso.
Mas não é mais uma palestra sobre Marte que vão ouvir amanhã, os curiosos que por lá apareceram. Como sempre tenho a obrigação de fazer uma coisa para ficar na memória de quem vai lá. Tenho que estar a altura da minha presença. É o mínimo que esperam de mim quando me convidam para estas coisas. Eu pelo menos tenha essa noção, embora as pessoas que me convidaram não me conheçam. Mas tenho obrigação de fazer uma coisa bem feita.