Custa dizer isto, mas este governo não ficará muito conhecido pelas obras que fez na ciência. Os dois primeiros anos foram de escassez com quotas em atraso ao ESO e ao CERN, com problemas de financiamento a vários níveis, com institutos a fechar por questões financeiras, com regressão na divulgação científica, com crispação entre cientistas e governo. A ministra lá foi dizendo que a culpa era do PS que devido a irregularidades administrativas tinha levado a que a Comissão Europeia congelasse os fundos para a ciência. É um facto que isso aconteceu, mas levar dois para clarificar a situação junto de Bruxelas também parece ser tempo demais. Entretanto, pelo caminho o governo aproveitou para reformular os programas operacionais do III Quadro Comunitário de Apoio, o que permitiu uma canalização de novas verbas para a ciência que não lhe estavam à partida destinadas. Vão caber-lhe assim 581 milhões de euros, no novo POCTI reestruturado. Diria que são boas notícias como é óbvio, mas, mesmo assim, parece que não conseguem compensar os cortes dos últimos dois anos. Daí que muita gente esteja apreensiva e à espera de ver o que acontece até 2006. Para já, a divulgação científica parece que vai voltar ao normal com o Ciência Viva a funcionar como noutros tempos e mesmo com algumas novidades na FCT. Mas o que me preocupa mais é depois de 2006 com o fim do III QCA. Por exemplo, a Região de Lisboa e Vale do Tejo, vai deixar a partir dessa data de ser financiada pelo QCA. E só nesta região está metade da comunidade científica. Como é que vai ser depois? E como é que vai ser quando as verbas para a ciência diminuírem no IV QCA? Vai o governo investir mais na ciência para compensar a perda? As dúvidas são mais que muitas e os próximos dois anos podem apenas ser uma calmaria antes da tempestade que se avizinha. Portanto, aproveitem enquanto dura. Isto se não houver eleições antecipadas.
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