27 março 2005
Descobertas extra-solares IV
Talvez vale a pena chamar a atenção para três coisas que as novas descobertas extra-solares vieram mudar a respeito dos dois planetas em questão. Espero que ajudem a perceber melhor a importância das descobertas.

Temperatura – a detecção do sinal infravermelho permite saber a temperatura dos planetas em questão com alguma precisão. Ambos são planetas quentes (1160-1130 K), como já era de esperar devido à sua proximidade às estrelas. Como são planetas que apresentam sempre o mesmo lado voltado para as suas estrela existe uma diferença de temperatura entre o lado nocturno e o lado diurno. Mas segundo alguns estudos teóricos, existem ventos zonais e correntes de calor que circulam de um lado para o outro afectando a temperatura atmosférica em função da longitude. Até aqui tudo bem. O problema é saber qual é a quantidade de calor que é transferida do lado diurno para o lado nocturno durante esses movimentos de calor?

Atmosfera – Até hoje HD 209458b era o único planeta extra-solar conhecido com atmosfera. As observações do TrES-1 indicam, no entanto, que este também pode ter uma atmosfera composta por monóxido de carbono e água. Se for confirmada, será que também está em processo de escape como no caso de HD 209458b?

Órbita – Ambas as equipas mediram que o tempo que os planetas demoram do trânsito à frente das estrelas até ao momento em que se escondem por trás delas (eclipse secundário) é exactamente igual ao tempo que vai do eclipse secundário ao trânsito. Isto mostra que os dois planetas têm que ter órbitas praticamente circulares com pouca ou nenhuma excentricidade, o que está de acordo com as teorias que dizem que isto deve acontecer devido às interacções gravitacionais entre estrelas e planetas tão próximos. Mas no caso do HD 209458b, a órbita circular levanta um problema complicado. É que dos 7 planetas conhecidos que fazem trânsitos, este é o que apresenta o maior raio planetário (35% maior do que Júpiter). Ora isto é muito estranho, pois o planeta tem 70% da massa de Júpiter. Ou seja, deve haver alguma fonte de calor interna que provoca este inchaço no planeta ou então o planeta é mesmo estranhamente pouco denso. Uma das teorias até agora é que o planeta não tinha uma órbita circular (devido à influência de outro companheiro planetário) e que a sua excentricidade orbital proporcionava marés gravitacionais por parte da sua estrela, que o aqueciam por dentro. Com esta descoberta, esta teoria vai borda fora e é preciso encontrar agora uma outra explicação mais convincente.
 
posted by Jose Matos at 12:42 | Permalink |


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