A divulgação da astronomia tem tido ao longo do tempo vários protagonistas. Os próprios astrónomos, os amadores e os divulgadores. Os divulgadores sempre existiram nos planetários, que são os sítios de divulgação por excelência. Se olharmos para a imensa quantidade de planetários que existem por todo o mundo vemos que muitos são animados por divulgadores. E nem sempre os divulgadores são astrónomos, senão não havia gente que chegasse para tanto planetário. A verdade é que muitos nem sequer possuem uma licenciatura em astronomia. Ora sendo assim, será que estas pessoas deviam falar de astronomia em público? Vamos pensar um pouco sobre isso.
Em primeiro lugar, num cenário ideal seria bom que todas as pessoas que falam de astronomia em público tivessem formação superior na área, além de jeito como é óbvio. É claro que este tipo de requisito é difícil de alcançar, pois a quantidade de lugares a preencher nesta área é elevada e nem todos os licenciados possuem apetência para falar em público ou para fazer divulgação. Portanto, num cenário mais realista é natural encontrar amadores a fazer divulgação. Em todos os países isso acontece das mais variadas formas. Existem associações de astronomia que fazem divulgação e aí encontramos muitos amadores nesse papel. Existem centros de ciência que também empregam amadores. Existem planetários que fazem o mesmo. E centros culturias a mesma coisa. Desta forma, os amadores estão um pouco espalhados em várias estruturas de divulgação falando de astronomia em público ou mesmo dando cursos de iniciação. E em muitos sítios fazem um excelente trabalho, apesar de não terem um curso de astronomia.
No entanto, nos últimos anos, tornou-se possível a qualquer pessoa interessada em astronomia obter formação superior nesta área sem chegar ao nível da licenciatura. Existem cursos de formação de nível universitário que dão uma formação razoável em várias matérias e cuja creditação no futuro deverá ser reconhecida por todos os países europeus no âmbito do tratado de Bolonha. Para já, estes cursos estão limitados ao Reino Unido e a França, mas é possível que no futuro cheguem a outros países. São cursos que dão um certificado ou um diploma de estudos superiores, embora não correspondam ao grau de licenciatura nem de bacharelato. Mas permitem pelo menos uma formação superior nesta área que pode ajudar todos aqueles que se dedicam à divulgação.
Desta forma, podemos ter no futuro muitos divulgadores com este tipo de formação colmatando assim a falta de formação superior. Mas será isto suficiente? Em muitos casos será, pois um divulgador quando fala em público não está a falar para especialistas, mas sim para leigos que pouco sabem de astronomia e que estão apenas interessados em conhecer um pouco mais. Portanto, o nível de conhecimentos que deve possuir, não precisa de ser muito específico (como um astrónomo profissional), mas sim o mais abrangente possível de forma a poder responder aos mais diversos temas. No entanto, é sempre bom que tenha na sua formação base astronomia de forma a saber do que está a falar.
Este tipo de requisito é já habitual em vários países onde os divulgadores são contratados para os mais diversos sítios desde planetários até centros culturais.
Mas há outra coisa que se observa lá fora. Os amadores, os divulgadores, as associações de amadores, os centros culturais e científicos, os planetários possuem uma ligação estreita com as escolas. E esta é outra área de acção característica dos divulgadores. Quantos por esse mundo fora não visitam as escolas com planetários portáteis ou com telescópios? Quantos não fazem sessões de observação ou ajudam os alunos e professores em projectos escolares? Esta interacção é positiva e permite fazer muita coisa que nem sempre os profissionais podem fazer por falta de tempo ou de disponibilidade. Portanto, é neste tipo de contextos que os divulgadores e os amadores se movimentam.
Em todos os países evoluídos se percebe isto e os profissionais e amadores colaboram não só na divulgação como também em projectos de observação. Cada um conhece o seu papel e as suas competências. Cada um sabe o que pode fazer pela astronomia.
É importante que este espírito também exista no nosso país. Em alguns casos já existe e noutros poderá existir no futuro. Portugal é um país pequeno com uma comunidade astronómica também pequena. Durante muitos anos era praticamente inexistente e os amadores também eram muito poucos e divulgadores não existiam. Daí que este tipo de questões não se colocava e os profissionais olhavam para os amadores com algum distanciamento e superioridade.
Nos últimos 10 e 15 anos tudo isto mudou. Os profissionais cresceram, os amadores também e alguns divulgadores surgiram. A astronomia entrou nas escolas e os planetários surgiram em vários locais juntamente com vários centros de ciência. Tudo isto criou um novo mundo de oportunidades e de solicitações. É natural que a par dos profissionais, os amadores e os divulgadores tenham aqui o seu papel. Se todos souberem trabalhar em conjunto estou certo que a nossa astronomia será melhor e que o ensino e a divulgação da mesma terá outro impacto.